Read this issue in English
23. Introdução
Saudações!!
Seja bem vindo.
Meu aniversário foi exatamente há 3 dias atrás.
Mas é você que recebe um presente hoje, leitor!
Pois preparei essa edição com muito carinho.
(Acredite em mim, foi bem desafiador decodificar as letras apagadas de um manuscrito antigo.)
Então…
Começo essa edição com uma pergunta: Você sonha, leitor?
Não como daydreaming, quando começamos a planejar nosso futuro ou tentamos descobrir o que queremos fazer com nossas vidas.
Mas precisamente como quando nosso animal de estimação está tirando uma soneca bem ao nosso lado e começa a latir enquanto sonha, fazendo com que seu latido soe como um soluço narcoléptico na vida real.
A simples ideia de viver uma fantasia lúdica na mente enquanto nosso corpo descansa e restaura seus recursos biológicos e sistemas para mais um dia a ser aproveitado.
Como você sabe, o Carnaval Brasileiro é o festival mais famoso e vibrante do mundo. É uma celebração massiva e lúdica que acontece anualmente no Brasil, geralmente em fevereiro. (Está acontecendo nas ruas do Brasil enquanto escrevo este artigo.)
Existe um ditado muito interessante no Brasil que diz: “O ano só começa depois do carnaval.”
Isso significa que as indústrias, o comércio e as corporações só começam a funcionar no Brasil após Fevereiro? Claro que não, mas gostamos de brincar com a ideia de que só estamos prontos para trabalhar duro depois de um bom tempo investido em diversão e brincadeira.
Mas eis o que a maioria das pessoas não sabe. Você pode pesquisar "Carnaval Brasileiro" no Google ou até mesmo ver algumas imagens na TV desse desfile esteticamente extravagante, com trajes deslumbrantes e veículos decorados usados como plataformas móveis para os desfiles. Nas grandes cidades, os desfiles celebram muitos aspectos diferentes das culturas do mundo.
No entanto, um Carnaval Brasileiro em cidades menores, como minha cidade natal, Foz do Iguaçu, é um pouco diferente. Você pode ver pessoas fantasiadas de muitos personagens diferentes, Homem-Aranha se divertindo com Barbie, Wednesday Addams dançando com Homem de Ferro e até mesmo alguém vestido de noiva do ano enquanto curte um bom samba.
Este cenário acaba por ser lúdico, acolhedor e inspirador porque muitos símbolos culturais e referências diferentes são reunidos em uma mistura nutritiva onde todos se inscrevem e vão para as ruas pelo mesmo motivo: se divertir.
Muito isso diz sobre como o Brasileiro vê o mundo: como um jogo para ser jogado e apreciado. É sobre abrir um sorriso e oferecer um abraço, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. O planeta pode não estar em sua melhor condição agora, mas para o Brasileiro, isso não significa que devemos estar constantemente sérios a respeito disso. Na verdade, tirar um tempo para se divertir e celebrar a vida às vezes é o melhor remédio para recarregar nossas baterias e motivações.
Talvez seja daí que vem a expressão "Jeitinho Brasileiro”. É uma expressão que descreve uma característica cultural do Brasil, que envolve encontrar soluções criativas ou improvisadas para lidar com situações difíceis, resolver problemas ou superar obstáculos. Esse termo é frequentemente associado a maneiras não convencionais de lidar com questões cotidianas.
Vamos nos aprofundar nisso.
23.1 - O “Homo Ludens”
E algumas ideias interessantes sobre o homem sonhador.
Todos nós conhecemos algumas das nossas 21 espécies humanas... homo neanderthalensis; homo erectus; homo habilis; e finalmente, homo sapiens; mas atenção, essas são as que vieram antes de nós. O que vem a seguir? Aqui está uma pergunta que clama por uma resposta, e eu posso ter uma. Descobri duas espécies raras, muito raras!
Descobri o Homo Universalis enquanto estudava polímatas como Leonardo Da Vinci, Santo Tomás de Aquino, Ada Lovelace e Ruy Barbosa de Oliveira. Eles são aqueles que entenderam que, através do fogo da disciplina e da paixão pela curiosidade, poderiam desenvolver quaisquer habilidades necessárias para criar o que nasceu no espaço de suas mentes. São pessoas com uma verdadeira dedicação à vida e à inteligência coletiva da fraternidade; fazem parte de uma família que nunca deixa de existir porque esta é uma família de genuína sede de conhecimento, fome de sabedoria, urgência de construir e necessidade de servir.
O Homo Ludens, vi pela primeira vez em um jogo de Hideo Kojima. Vi pela segunda vez em alguns artigos escritos pelo professor tcheco-brasileiro Vilém Flusser, onde ele relaciona o termo "Homo Ludens" ao "jeitinho brasileiro" que mencionei acima. Vi pela terceira vez em um livro escrito em 1938 por Johan Huizinga, onde o termo foi cunhado pela primeira vez: "Homo Ludens: Um Estudo do Elemento Lúdico na Cultura". Nesta obra influente, Huizinga explora o significado do jogo na cultura e na sociedade humanas. A principal tese de "Homo Ludens" é que o jogo é um aspecto fundamental da cultura humana e permeia vários aspectos da vida humana, incluindo arte, linguagem, lei e rituais. Huizinga argumenta que o jogo não é apenas uma atividade trivial ou frívola, mas sim um elemento crucial que molda a civilização humana. Segundo Hideo Kojima, os Homo Ludens são aqueles que jogam para unir pessoas, criar cultura e moldar o mundo ao seu redor.
Incrível, não é?
No passado, já discuti aqui na Agency o quão importante é manter nossa criança interior saudável e segura para que possamos estar bem conectados com nossas capacidades criativas - Confira o artigo abaixo (Ainda não disponível em Português).
Se formos considerar a espécie Homo Ludens por um momento, trata-se de ser humano que é brincalhão e que não leva a vida a sério porque, no final do dia, estamos todos aqui para aproveitá-la. Mas manter essa atitude na vida adulta é talvez o maior desafio para cada um de nós.
Seja honesto, leitor; o que você pensa sobre videogames? A maioria diria que são algo feito para crianças e adolescentes. Mas reconhecer os jogos como uma forma de entretenimento e aproveitar alguns jogos enquanto se é adulto é, mais do que tudo, quebrar um estigma.
Eu não saberia nada sobre esse estigma, considerando que meu pai tem mais de 60 anos e adora jogar FIFA no seu Xbox com seus amigos online todos os dias após o trabalho.
Ser capaz de se divertir em nossas próprias casas explorando interativamente mundos fictícios ou esportes é, na verdade, uma forma muito importante de lazer e inspiração em um presente em que temos que trabalhar e produzir incessantemente.
Na verdade, Stanley Kubrick disse isso primeiro no roteiro do filme clássico "O Iluminado".
Muito trabalho e nada de diversão tornam Jack um menino sem graça.
- Jack Torrance escreve em uma máquina de escrever.
Escute.
Na maioria das vezes, um estigma é simplesmente uma falta de referência.
E falando em referências, vamos avançar para o próximo tópico.
21.2 - Um modelo Brasileiro.
Um novo tipo de homem?
Este ensaio de Vilém Flusser navega em torno dos aspectos geográficos e origens da nação brasileira. Ele aponta que, embora o Brasil compartilhe sua origem na civilização ibérica, o que se correlaciona com as culturas portuguesa e espanhola, existem duas divisões no Brasil (Sul e Nordeste) que são muito diferentes em aspectos econômicos, culturais, sociais e raciais.
Eu apresentei Vilém Flusser em uma edição anterior da Agency; você pode encontrá-la abaixo. (Ainda não disponível em Português.)
Segundo ele neste artigo, em poucas palavras:
"O sul do Brasil é uma sociedade subproletária industrializada composta por brancos, negros e japoneses. Enquanto o nordeste do Brasil é uma sociedade feudal ou até mesmo mais primitiva, composta por misturas branco-indígenas dominadas por classes brancas."
Ele avança seu raciocínio comparando o nacionalismo brasileiro a uma cópia do nacionalismo europeu do século XIX, enquanto menciona o constante processo de migração que ocorre do nordeste para o sul, o que acontece como uma forma de colonização econômica feita pelo sul. Ele também aponta que essa dinâmica pode, no entanto, se tornar um fator potente em uma possível nova sociedade que se cristalize a partir dessa situação heterogênea - que na verdade é o tema do artigo.
Flusser mergulha mais fundo em alguns aspectos culturais e razões por trás dessas duas divisões, como eles se veem e o que procuram um no outro, e também discute a essência do Brasileiro através do carnaval e o futebol.
“O carnaval é uma cena mítica na qual os homens participam com dedicação religiosa, mas sempre com a consciência de que é uma representação lúdica. O futebol é um ritual mítico no qual todos os participantes masculinos nas massas brasileiras participam ativamente, e que constitui um mundo governado por modelos míticos totalmente diferentes dos mitos televisivos ocidentais, mas que ainda é um mundo de conflito dialético sem nunca perder seu aspecto lúdico.”
Ele também menciona a expressão "O Jeitinho Brasileiro", rotulando-a como "Malandro" e descreve isso como uma síntese de a) o deus africano Exu (o trabalhador, defensor e conhecido como o mensageiro e guardião dos terreiros, aldeias, cidades, lares, axé e comportamento humano) e b) alguns aspectos do conceito ocidental do diabo.
De acordo com ele, em meio a todos os desafios e dificuldades que o homem brasileiro enfrenta como resultado de suas próprias origens:
"Essa combinação de arquétipos confere à vida brasileira uma atmosfera de leveza, de estar acima do mundo e olhá-lo como um jogo, o que impede a seriedade animal tão característica da cena ocidental e a não transcendência tão característica das culturas africanas."
Ele continua sua pesquisa fornecendo exemplos de como essa personalidade lúdica particular e única do brasileiro pode afetar positivamente muitos campos diferentes da cultura humana, alguns deles são a) o tipo de música produzida no Brasil, b) novos tipos de pintura, c) um novo tipo de escrita, d) um quadro inovador de planejamento de paisagismo em grande escala, e) uma nova atitude de muitos no campo da pesquisa científica.
Muitas páginas deste manuscrito estão desgastadas, e é bastante enigmático entendê-lo em sua extensão completa, mas ele finaliza suas teorias mencionando o termo mencionado anteriormente, "Homo Ludens".
“Porque o Brasil é um dos poucos lugares restantes onde o conceito de um homem pós-histórico no sentido de 'homo ludens' não é uma ideia abstrata elaborada por pensadores isolados. É um lugar onde esse conceito está sendo vivido na prática. [...] É uma espécie de compromisso sacrificial, embora irônico. Pode se tornar, porque é espontâneo e também deliberado, um modelo para outras sociedades também.”
Receio que esta seja a conclusão desta edição da Agency. No entanto, continuarei pesquisando os artigos de Flusser e decifrando as letras ausentes para trazer ideias frescas aos nossos leitores.
Até a próxima, leitor.
Apenas não esqueça.
Muito trabalho e nada de diversão torna Jack um menino sem graça!
Sobre o Autor
Thiago Patriota
Nascido em 1996. Brasileiro de coração e criação. Bacharel em Publicidade e Comunicação. Adepto do autodidatismo. Alma curiosa. Autor publicado. Fundador da Agency.
Isso é um resumo sobre mim, mas você pode saber mais sobre a Agency na página Sobre!